“Temos de ser magras, mas não demasiado. (…) Tens de ter sucesso, mas não mais do que eles. Tens de ser inteligente, mas não intimidante. (…) Tens de adorar ser mãe, mas não falar dos teus filhos o tempo todo. (…) Nunca podemos envelhecer, errar ou mostrar vulnerabilidade (…) E, mesmo assim, parece sempre que estamos a fazer tudo mal.”
Uma das paradoxais ironias deste filme é que, apesar de criticar a forma como a sociedade trata a mulher, os maiores destaques mediáticos e prémios recaíram sobre Ryan Gosling (Ken), o que evidencia como, frequentemente, as contribuições das mulheres continuam a ser subestimadas.
A imagem feminina no mundo laboral: entre a pressão estética e a desigualdade salarial
O que se passa no “idílico” mundo de Hollywood não é um fenómeno isolado.
Diversos relatórios indicam que, por exemplo, nos Estados Unidos, a disparidade salarial entre géneros continua a ser uma realidade persistente: as mulheres ganham, em média, apenas 82% do que ganham os seus colegas homens.
Além disso, segundo um estudo da Harvard Business Review, as mulheres recebem mais críticas sobre a sua aparência no ambiente de trabalho do que os homens, o que intensifica ainda mais a pressão estética a que estão sujeitas.
O impacto desta dupla carga vai para além do contexto profissional. Uma análise realizada em mulheres espanholas mostra que aquelas com maior confiança em si próprias apresentam melhor saúde, revelando menos sintomas de depressão, ansiedade e disfunção social. Em Portugal, a realidade não será diferente. Este dado não só sublinha a importância de abordar a desigualdade salarial e a pressão estética do ponto de vista profissional, como também evidencia de que forma estes fatores afetam diretamente o bem-estar físico e psicológico das mulheres, conduzindo a um desgaste que se mede não só em termos salariais, mas também na sua saúde mental e emocional.
Como libertar-se das expectativas externas
Embora seja fácil apresentar uma lista interminável de recomendações sem ter em conta fatores como o contexto familiar ou as pressões sociais, os pontos que se seguem podem constituir um bom ponto de partida para repensar o peso que carrega sobre os ombros. Está sempre a tempo de deixar para trás esses “devias” e começar a libertar-se das expectativas alheias:
• O poder de dizer “não”: Aprenda a impor limites. Dizer “não” não é egoísmo — é necessário para proteger o seu bem-estar. Seja no trabalho, na vida pessoal ou nas relações, saber recusar o que não lhe faz bem é um ato de amor-próprio.
• Decida sobre a sua sexualidade: A sexualidade é uma escolha pessoal, não uma obrigação. Está tudo bem se, por vezes, tiver um desejo sexual elevado, ou se passar por períodos sem relações. Não permita que ninguém lhe imponha o que é “normal” na sua vida íntima; o que importa é tomar decisões com base no que a faz sentir-se bem.
• Não tema reinventar-se: A vida está cheia de novas oportunidades, e mudar é sinal de coragem — não de fraqueza.
• Fomente a sororidade: Apoie-se noutras mulheres. A sororidade é uma força transformadora que nos permite unir para quebrar as barreiras que nos foram impostas. Juntas somos mais fortes, e o apoio mútuo impulsiona-nos, desafiando as crenças limitadoras de gerações passadas. Quem melhor para a compreender do que outra mulher que viveu experiências semelhantes?
Por fim — e não menos importante — algo que pode soar a cliché, mas que tem um poder imenso: aceitar-se como é. A verdadeira liberdade começa com a aceitação de si mesma. Abrace essas imperfeições que a tornam humana, as suas forças, mas também as suas vulnerabilidades — pois são elas que lhe permitem sentir profundamente.
Longe do molde onde a tentaram encaixar, a verdadeira beleza reside na autenticidade. Compreenda que não precisa de ser perfeita — basta ser você mesma. Cante quando lhe apetecer, diga sim a um plano inesperado, escolha ser mãe ou, pelo contrário, um caminho que a preencha mais. Porque, no fim do dia, o mais gratificante é saber que tomou as rédeas da sua vida e que pode sentir-se feliz com aquilo que escolheu (porque foi uma escolha sua). Porque é mais do que suficiente tal como é.