Comecemos pelo início: a microbiota vaginal é composta principalmente por lactobacilos, mais conhecidos como bactérias do ácido lácteo, que convertem o açúcar das células vaginais em ácido lácteo, gerando um ambiente ácido dentro da vagina. No entanto, muitas pessoas não sabem que há uma ligação entre a flora vaginal e as relações sexuais. Durante o sexo, as bactérias intercambiam-se e misturam-se entre os membros do casal. O que acontece no seguimento disto na microbiota vaginal depende da forma como reagem as bactérias existentes na vagina perante as “novas” bactérias do casal.
Assim, podem ser transmitidos gérmenes patogénicos que causam diversas infeções em todo o corpo. Inclusive certos fluídos corporais, como por exemplo os espermatozoides, podem intercambiar-se durante as relações sexuais e podem elevar o valor do pH da vagina, uma vez que costumam ser alcalinos. Desta forma, o pH vaginal aumenta e torna-se menos ácido. Neste ambiente em mudança, o equilíbrio do microbioma vê-se afetado e isto costuma ser a causa das infeções bacterianas na vagina.
E não só isto. Acontece com frequência ocorrer um processo de inflamação vulvovaginal, como as vulvovaginites infeciosas, podendo dar origem à indesejada secura vaginal, que tanto dificulta o sexo. Esta situação costuma ser associada a sintomas da menopausa, mas a verdade é que também pode ocorrer por via infeciosa, algo que não distingue idades.
A cistite da lua de mel
A cultura anglo-saxónica definiu-a como a “honeymoon cystitis” com um certo sarcasmo e humor retorcido, porque muitas mulheres começam a padecer rapidamente uma dolorosa lembrança da ligação entre as infeções da bexiga e o sexo. A chamada “cistite da lua mel” é uma infeção da bexiga causada pelas relações sexuais.
No passado, as mulheres tinham tradicionalmente relações sexuais pela primeira vez na noite do casamento e sofriam os sintomas típicos de uma infeção da bexiga no dia seguinte. Isto inclui micção frequente e ardor ao urinar. Atualmente, muitas mulheres ainda sofrem desta “cistite da lua de mel” (ainda que sem honeymoon).
O sexo pode “sobrecarregar” a área genital da mulher e aumentar o risco de infeções urinárias ou outras doenças do trato urogenital. A causa desta doença costuma ser a própria bactéria intestinal do organismo. Por outro lado, e em termos gerais, um novo parceiro sexual sempre aumenta o risco de cistite. As bactérias da mulher ainda não conhecem os novos microrganismos do novo parceiro e o sistema imunitário só mais tarde reage a estes novos micróbios.
Como se trata a cistite?
O tratamento de uma infeção da bexiga sem complicações, em geral, implica o uso de antibiótico. Isto leva a um alívio rápido dos sintomas e o patogénico é eliminado por completo do corpo. Mas o tratamento não destrói apenas o patogénico que causa a infeção da bexiga, também destrói outras bactérias boas e importante para o corpo.
Os analgésicos ou os medicamentos espasmolíticos, que também são usados frequentemente em combinação com os antibióticos, podem igualmente danificar o microbioma. Por isso é recomendado apoiar a flora intestinal e vaginal com probióticos durante a ingestão de antibióticos para repor estas castas bacterianas importantes e saudáveis.
Por uma microbiota “sex-friendly”
Merecemos ter uma vida sexual divertida, saudável e satisfatória em qualquer idade (jovem ou em idade mais madura) sem ameaças iminentes de uma infeção que destrua tudo. Há vários conselhos que lhe podemos dar para manter uma microbiota vaginal saudável:
- Pratique sexo seguro. Use um método de barreira como preservativos e outros protetores vaginais.
- Cuide dos seus brinquedos sexuais (se os tiver). Lavá-los e secá-los antes e depois de cada utilização.
- Lave-se ou tome um duche depois do sexo para limpar a uretra de possíveis patogénicos.
- Inclua os probióticos na sua dieta.
- Considere um tratamento em casal. Dado que os dois podem albergar bactérias pouco amigáveis que podem causar sintomas e provocar uma infeção, pode valer a pena que ambos façam um tratamento.
E se vê que o incómodo persiste no tempo, não duvide em consultar o ginecologista para se aconselhar e, se necessário, fazer tratamento. O médico é e será sempre um amigo.