A seguir, detalhamos as vantagens das dietas sem glúten e salientamos qual o impacto real na saúde desta proteína presente em vários cereais. Trata-se de uma simples tendência passageira ou há fundamentos sólidos que justificam o contributo na melhoria da nutrição e no aumento de bem-estar? A resposta a esta questão é algo que só a ciência o pode afirmar de forma evidente.
Em que consiste a dieta sem glúten
O glúten é uma proteína vegetal que se encontra nas sementes de alguns cereais, como é o caso do trigo, da cevada, do centeio, da espelta, do kamut, do grão de espelta verde, do trigo einkorn, do centeio branco e do triticale. Por vezes, inclui-se na lista a aveia que, apesar de não ter glúten de forma natural, costuma ser contaminada no processo de produção e chegar ao mercado com marcas de glúten. De facto, os celíacos já sabem que devem comprar sempre aveia com o rótulo sem glúten.
Uma dieta sem glúten, portanto, é aquela que não inclui nenhum dos cereais, nem sequer nenhum dos seus vestígios, quer dizer, nem sequer uma quantidade de 20 ppm, ou seja, menos de 20 miligramas de glúten por cada quilo de alimento (ou, o que significa o mesmo, uma concentração máxima de glúten de 0,002%, a quantidade máxima antes de representar um problema sério para o organismo de um celíaco).
Propósito de uma dieta sem glúten
Embora muitas pessoas refiram que o glúten é responsável pela inflamação do ventre, há até especialistas em fisioterapia que dizem ser prejudicial para as articulações, a verdade é que o glúten não é uma substância má por si mesmo. Algumas pessoas têm a ideia de que não lhes cai bem. Contudo, o problema talvez seja, na verdade, mais do que do glúten, do produto que o contém. Há que ter em conta que a farinha refinada (com ou sem glúten), que é utilizada no pão de fabrico industrial e nos produtos ultraprocessados de todo o tipo, sim, é em si mesmo pró-inflamatória. No entanto, nesse caso importa mais retirar esses produtos da alimentação do que retirar o glúten, sem mais.
O celíaco encontra no glúten uma agressão bastante séria, uma vez que o seu organismo (concretamente, o seu sistema imunitário) reage a esta proteína vegetal de forma errada, confundindo-a com uma substância nociva e desencadeando um processo complexo que provoca muitos sintomas, tanto digestivos como não digestivos. Por isso deve prescindir do consumo do glúten, porque o risco de dano, num ou em vários órgãos é elevado, chegando a ser causa de cancro.
Atualmente não se sabe porque acontece esta reação, mas o que já é claro é que apenas ocorre em pessoas com celiaquia, definindo-se como uma doença autoimune, sistémica e crónica, produzida pelo consumo do glúten, e que acontece em indivíduos geneticamente predispostos. Ninguém está fora desta definição, portanto, pode acontecer que padeça desta doença que o obrigará a fazer uma dieta sem glúten ao longo de toda a vida, sem esquecer os vestígios de glúten que possam existir em certos medicamentos, nos dentífricos ou até nos cosméticos.
Por outro lado, a confirmação da intolerância ao glúten tem de ser feita por um endocrinologista, nutricionista especialista em intolerâncias ou um alergologista alimentar. De novo, autodiagnosticar-se é um erro. Dito isto, as pessoas que voluntariamente façam uma dieta sem glúten devem garantir o consumo de uma quantidade adequada de fibra e, se for possível, consumir outro tipo de cereais, como arroz, milho ou aveia, uma vez que eliminar da dieta um grupo completo de alimentos não é apropriado nem benéfico para ninguém, salvo sob prescrição médica.
Além disso, quem renuncia ao glúten porque pensa que lhe está a fazer ganhar peso ou a ficar inchada devem saber que os produtos ultraprocessados (pães, massas, ou bolos sem glúten) são igualmente pró-inflamatórios, dada a quantidade de gordura refinada, açúcar, sal, conservantes e outras farinhas refinadas que possuem, mesmo que sejam livres de glúten. Além disso, em geral, costumam ser hipercalóricos.
Lista de alimentos sem glúten
O único motivo pelo qual a ciência considera que seja feita uma dieta sem glúten, como dissemos, é a presença da doença celíaca diagnosticada. Todo o produto alimentar que um celíaco consome deve ter, portanto, um rótulo que garanta que se trata de um produto sem glúten.
Ficam fora desta exigência os alimentos que não têm glúten e não foram processados (leite, verdura, fruta, carne, ovos, peixe, etc.). Existe no site do SNS 24 uma listagem que pode ser consultada e, dessa maneira, fazer as compras de modo mais seguro.
Há benefícios para a saúde eliminar os alimentos com glúten?
Apenas para os celíacos, para as pessoas sensíveis ao glúten não celíacos e pessoas alérgicas ao trigo diagnosticadas por um alergologista. As demais pessoas que façam a pergunta sobre por que razão o glúten lhes cai mal devem consultar o médico. Muitas vezes, não é o glúten, mas sim o trigo ou, por exemplo, o centeio, cereais que o intestino não tolera bem.
É provável que tenham digestões pesadas porque o intestino tem a microbiota desequilibrada – por má alimentação ou por stress ou pela toma de algum medicamento – e isso provoca-lhes barriga inchada. Pode acontecer que estejam a engordar porque abusam de produtos ultraprocessados, que contêm doses elevadas de gordura e açúcar… Culpar o glúten por uma má alimentação não tem sentido.
Portanto, prestemos atenção à evidência científica que diz que fazer uma dieta sem glúten, não sendo celíaco ou alérgico ao trigo, não é necessário nem está indicado para o favorecimento de um melhor descanso, uma barriga menos inchada ou não ter dor nas articulações.